É possível que, em breve, as pessoas que desejam parar de fumar passem por uma avaliação genética que diga a qual tratamento cada uma delas vai responder melhor.
Dois estudos conduzidos por pesquisadores do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP) avançam nessa direção.
Os cientistas mostraram que variações em dois genes estão associadas a uma maior resposta a duas drogas usadas para tratar o tabagismo.
Dados do Ministério da Saúde divulgados nesta quinta-feira (28) mostraram que o número de fumantes caiu cerca de 30% no país nos últimos nove anos – hoje, 10,8% dos brasileiros são fumantes, contra 15,6% em 2006, segundo a pesquisa Vigitel, que monitora fatores de risco para a saúde por telefone.
Contudo, apenas de 4% a 7% dos fumantes conseguem parar de fumar sem medicamentos ou um tratamento formal, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
As terapias incluem acompanhamento médico e psicológico, a prescrição de drogas como vareniclina e bupropiona e a reposição de nicotina (com adesivo ou chicletes).
LETRINHAS
Os pesquisadores do Incor avaliaram justamente a ligação entre genética e a resposta a essas duas drogas.
Do primeiro estudo, que foi publicado em fevereiro deste ano no periódico científico “Frontiers in Genetics”, participaram 483 pacientes que haviam recebido aconselhamento psicológico e tratamento medicamentoso, dos quais 167 eram tratados com vareniclina.
Os cientistas avaliaram polimorfismos –ou seja, variações das letras C (citosina), G (guanina), T (timina) e A (adenina) –em dois genes.
O resultado: aqueles pacientes que tinham as letras CT ou TT em uma determinada posição do gene CHRNA4 tinham 67% mais chance de responder à vareniclina.
O outro estudo da equipe do Incor que está sendo avaliado para publicação em revistas científicas partiu do pressuposto que polimorfismos em outros dois genes estavam relacionados à resposta à bupropiona.
A hipótese se confirmou para o gene CYP2B6. Quem tinha as letrinhas AA numa certa posição do gene tinha uma taxa de sucesso maior (48%) com a droga do que os pacientes com as sequências AG ou GG (35%).
“Com isso, poderemos identificar, antes do tratamento, quem vai responder melhor à droga X ou Y, o que poupa tempo e dinheiro”, afirma Jaqueline Issa, diretora do programa de tratamento do tabagismo do Incor e coautora dos dois estudos.
Os estudos ainda são iniciais, mas já estão previstos outros trabalhos prospectivos, ou seja, que indicarão o tratamento a partir da avaliação genética. Ela acredita que dentro de 3 ou 4 anos isso estará disponível na prática clínica.
A pesquisa científica avança na relação entre genética e tabagismo. Já se sabia, por exemplo, que fatores genéticos influenciam a dependência da nicotina –quem tem circuitos de prazer mais ativados e metabolização hepática mais rápida tem mais risco de se viciar no cigarro.
Fonte: Pfarma