De acordo com o levantamento preliminar da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), as vendas e a demanda interna de produtos químicos de uso industrial intensificaram os recuos em termos de volume de janeiro a agosto deste ano, na comparação com igual período do ano anterior. As vendas internas caíram 4,56%, enquanto a demanda nacional por produtos químicos, medida pelo consumo aparente nacional (CAN), teve retração de 5,2% nos primeiros oito meses do ano. “A atividade econômica vem apresentando resultados muito aquém do que se esperava e as principais cadeias demandantes de produtos químicos não têm tido uma boa performance, destacando-se a indústria automobilística, construção civil, atividades de E&P, entre outras”, analisa a diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira. Em meio a esse cenário, o Governo Federal ainda anunciou o pacote de ajuste fiscal, que, segundo a diretora da Abiquim, atinge diretamente e agrava a competitividade da indústria química brasileira. “No caso da química, presente na base de diversas cadeias industriais, não se pode descartar o efeito inflacionário que essas medidas poderão trazer”, alerta Fátima Giovanna.
Para a economista, a pretendida redução em 50% do Regime Especial da Indústria Química (REIQ) já em 2016 “vem em um momento extremamente difícil, de redução das vendas no mercado interno, encolhimento da demanda e alta ociosidade, que acabará significando elevação nos custos de produção”. Ainda, de acordo com Fátima Giovanna, a redução da alíquota do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra) também vem justamente em um momento em que o setor tem mantido produção com algum ganho de volume no mercado externo. “Devido à característica da indústria química de trabalhar com horizonte de longo prazo, diversas negociações foram realizadas levando-se em consideração tanto o REIQ quanto o Reintegra”, lamenta Fátima Giovanna.
Além disso, a diretora da Abiquim lembra que neste ano o setor industrial já foi prejudicado pela alta das tarifas de energia elétrica, da ordem de 30% a 40%, e pelo anúncio da retirada dos descontos do gás de produção local, até o final do ano, que terão impacto de mais 20%. “Enquanto os custos se elevam no Brasil, a produção nos EUA, por causa do shale gas e do barateamento da energia, é uma das mais competitivas no mundo atualmente. A extinção do benefício do REIQ em 2017, prevista no plano divulgado pelo governo, coincidirá com o início de produção de diversas novas plantas americanas, colocando ainda mais pressão sobre o setor químico brasileiro”, explica.
Em relação à produção de químicos de uso industrial, o índice foi positivo em 0,83% no acumulado de janeiro a agosto de 2015. O aumento é explicado pelo crescimento de 14,9% das exportações no mesmo período, incentivado pela desvalorização do real frente ao dólar, além da base deprimida de comparação dos primeiros meses do ano passado, ocasião em que foram realizadas diversas paradas para manutenção. Quanto ao volume importado, o índice nesses oito primeiros meses apresentou recuo de 19,2%. No entanto, é importante lembrar que, embora o real tenha se desvalorizado no período recente, o dólar se valorizou substancialmente no mundo. Assim, não apenas o Brasil ficou mais competitivo, mas diversos outros países também, inclusive a Europa. Além disso, a nafta petroquímica, principal matéria-prima do setor, também teve redução de preços no mercado internacional, bem como seus derivados químicos. Ainda, parte do efeito positivo da depreciação do real foi anulada pela redução da cotação das commodities no mercado internacional, por causa do enfraquecimento da demanda chinesa.
Segundo análise da especialista, essa situação crítica não tem possibilitado a realização de investimentos, que poderiam ajudar a conter o elevado déficit na balança comercial de produtos químicos, hoje em cerca de US$ 30 bilhões.
“Nessas condições, o REIQ e o Reintegra se fazem ainda mais necessários e importantes para estimular o produtor nacional. Dada à situação já complicada da indústria química, as medidas de cortes a incentivos ao setor podem levar ao fechamento de plantas e ainda a uma maior redução das intenções de investimento. Se o País não repensar as medidas, buscando estimular e revitalizar a indústria, o Brasil corre sério risco de em um futuro breve se tornar exportador apenas de commodities, sem agregar valor à vasta riqueza de matérias-primas. Vale lembrar que não existe País desenvolvido sem uma indústria química forte”, conclui.
Fonte: Abiquim