O ciclo de novos investimentos das indústrias químicas e petroquímicas no Brasil deve enfrentar um longo período de entressafra. “Os únicos projetos relevantes que vão sair do zero (‘greenfield’) já foram anunciados”, disse Fernando Figueiredo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), referindo-se ao Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), que ainda não saiu do papel, e à Basf, que está construindo um complexo de ácido acrílico na Bahia.
“O custo do investimento no Brasil é muito alto. É 25% superior ao dos países asiáticos e 10% mais alto que nos EUA”, afirmou Figueiredo. Além do alto custo do investimento, o preço da matéria-prima no País não é competitivo, se comparado aos EUA, que renasceram após as descobertas das reservas de “shale gas” (gás de xisto).
Com a aquisição dos ativos de PVC da Solvay pela Braskem, anunciada nesta semana, também sobraram poucos ativos relevantes para serem comprados no País. “O movimento de consolidação deverá continuar firme, mas será global.”
O tom pessimista da Abiquim reflete em parte o momento delicado pelo qual o setor está passando. Neste ano, o déficit da balança comercial da cadeia deverá atingir US$ 32 bilhões – novo recorde-, 12% maior do que em 2012, de US$ 28,5 bilhões. Até novembro, o déficit atingiu US$ 29,6 bilhões, 15% maior do que o registrado em igual período de 2012. A expectativa, ainda conservadora para 2014, é superar US$ 35 bilhões.
Segundo Figueiredo, há investimentos “represados” da ordem de US$ 13 bilhões na área de fertilizantes, para produção de insumos intermediários, que poderiam ser tocados até 2017, sobretudo, pela Vale e Petrobrás, mas que estão em “stand-by”.
Nesse caso específico, as indústrias reivindicam a retirada de uma série de produtos que integram a lista de exceções da TEC (Tarifa Externa Comum). São nove produtos incluídos, que se retirados, segundo a Abiquim, permitiria a elevação da participação da produção nacional na demanda de fertilizantes, de 28% em 2012 para 48% em 2017. O déficit do País no setor poderia cair significantemente – no ano passado foi de US$ 8,5 bilhões e está estimado em US$ 10 bilhões este ano.
O Comperj, que em uma estimativa conservadora feita pelo mercado, deverá ter aportes de, no mínimo, US$ 5 bilhões, é considerado importante para o País porque trará uma fonte alternativa ao nafta, o gás natural. “Das seis fontes de matéria-prima petroquímica, o Brasil tem condições de concorrer em cinco (petróleo, gás natural, minérios, terras raras e biodiversidade). O carvão só é utilizado pela China”, disse o executivo.
Desoneração. Neste ano, as indústrias do setor foram beneficiadas com o aumento dos créditos de PIS/Cofins gerados na compra de matérias-primas do setor. Na aquisição de insumos, as companhias terão crédito tributário de 8,25% (o porcentual era de 3,65%). A desoneração vai até 2015 e, entre 2016 e 2018, haverá queda gradual até voltar aos patamares originais.
“O que o setor precisa é de um plano de longo prazo. Estamos falando de 20 a 25 anos. A desoneração do PIS/Cofins já foi considerada importante, mas não é suficiente para retomar a competitividade do setor”, afirmou.
A valorização do dólar ainda não foi suficiente, segundo Figueiredo, para inibir as importações de insumos químicos e petroquímicos. “Para o setor, o câmbio ideal seria o de R$ 2,60”, disse. “O Brasil deveria reforçar investimentos em matérias-primas renováveis. Nem de longe substituiria o petróleo, mas poderia ser o diferencial. O BNDES está concluindo um estudo para diversificação da matéria-prima e o que não falta é crédito para inovação.”
Fonte: Abiquim/O Estado de São Paulo