Não é novidade que a Floresta Amazônica, área com a maior biodiversidade do planeta, é um prato cheio para a indústria cosmética contemporânea do mundo inteiro. Ativos encontrados na exuberante vegetação local já fazem sucesso em óleos e manteigas protetores e super-hidratantes. Mas isso ainda está muito aquém das possibilidades oferecidas naquela região. É o que descobriu a cosmetologia de alta performance que, com processos sustentáveis de extração, investiga a potência de frutas, frutos, sementes e plantas amazônicos para turbinar o skincare. Capazes de reduzir manchas, uniformizar a cor, combater flacidez, estrias, infecções e até mesmo aumentar a proteção contra os raios ultravioleta, os ingredientes naturais são mais saudáveis e muito, muito aromáticos.
Cada ativo vegetal tem sua própria composição química, que influencia de diferentes maneiras os tratamentos dermatológicos. “Não é que existam óleos melhores que outros, o que existem são potencialidades diferentes”, explica a farmacêutica Fefa Mallmann, produtora de cosméticos naturais da marca Fefa Pimenta Natural. “Alguns possuem uma característica muito mais significativa no sentido de emoliência da pele, outros vão ajudar na questão oclusiva, para manter a hidratação”, completa. Ela explica que uma composição rica em ácidos graxos, por exemplo, vai fazer com que o ativo seja mais bem absorvido pela pele do que outros. A maioria deles, no entanto, pode ser aplicada em seu estado natural. Exemplos disso são os óleos de pracaxi, de buriti e de copaíba. Mas atenção: “Para fazer uso dos óleos in natura, é importante prestar atenção ao rótulo e checar se está puro”, diz a dermatologista Luiza Archer, especializada em dermatologia natural.
Geralmente envasados em frascos de cor âmbar que os protegem da luz, ela explica, esses produtos não precisam de conservantes e duram bastante. “Mesmo assim é comum encontrá-los com adicional de fragrância ou parabenos, e aí começam a não ser tão naturais assim”, emenda.
Um dos desafios atuais da cosmetologia natural é fazer com que os produtos se tornem mais biodisponíveis, ou seja, com maior utilidade para o organismo. Aí é que a biotecnologia verde entra em ação. “A pele é um órgão de barreira, por isso é tão difícil a penetração de ingredientes em camadas profundas”, informa a dermatologista Patricia Silveira, especializada em dermatologia natural. Isso significa que, para um efeito mais proveitoso, a molécula do principal ativo utilizado na fórmula precisa ser fragmentada ao menor tamanho possível para que fique mais concentrada. “Essa tecnologia é aplicada em óleos extraídos do açaí e da andiroba, por exemplo, e otimiza o uso do ingrediente, porque é possível utilizar menos matéria-prima e obter um resultado mais potente, além de reduzir os custos do produto”, conclui. Fatores como o veículo – creme, sérum ou gel, por exemplo –, combinados a outros bioativos, também interferem no resultado final.
Extração sustentável
De nada adiantariam os cuidados da indústria na criação e formulação dos produtos se a natureza não fosse tratada com o mesmo respeito. Para garantir a preservação das árvores e das plantas das quais recolhem os ativos, a saída é o extrativismo vegetal sustentável.
A Bioart, expert em várias esferas de techbio, trabalha com a rastreabilidade e acompanha a cadeia produtiva de seus produtos, garantindo sustentabilidade ambiental, social e econômica desde a extração até a manipulação. “Sempre verificamos se homens e mulheres que trabalham nas comunidades locais estão recebendo pagamentos iguais e se não há nenhum tipo de poluição ambiental nas águas, por exemplo”, conta Soraia Zonta, bioempreendedora e fundadora da Bioart. A empresa trabalha ainda com selos de controle de qualidade internacionais. “Além disso, adotamos o método Chemical Leasing das Organização das Nações Unidas (ONU), um modelo de consumo consciente que protege processos, pessoas e o meio ambiente em geral.”
Para Patricia Lima, fundadora da Simple Organic, a responsabilidade social das corporações está em toda a cadeia produtiva, que garante sustento econômico para moradores e a biodiversidade do bioma. “O extrativismo precisa ser feito de forma consciente, respeitando os ciclos das plantas e no momento correto, para não prejudicar a região nem as comunidades. Por causa disso, temos produtos dentro do portfólio, como os óleos essenciais, que ficam um período do ano sem estoque porque os insumos não estão prontos para a extração.”
A Natura é outra que se compromete com famílias da região que trabalham para fornecer os insumos, desde que passou a incorporar ativos da Amazônia em seus produtos, 20 anos atrás. “Nossas matérias-primas amazônicas são fornecidas por comunidades agroextrativistas e, assim, utilizamos toda a riqueza desses ingredientes enquanto promovemos o desenvolvimento socioeconômico da região”, conta Roseli Melo, head global de Produto & Desenvolvimento da Natura. Segundo ela, a empresa se relaciona hoje com cerca de 40 comunidades fornecedoras de bioativos, abrangendo 8.300 famílias, em um modelo de negócio que já contribuiu para a conservação, até hoje, de 2 milhões de hectares de floresta.
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Fonte: Revista Marie Claire