Equipe de cientistas do Centro das crianças de Johns Hopkins, a Universidade de Mississippi Medical Center e da Universidade de Massachusetts Medical School descreveram o primeiro caso de uma “cura funcional” em uma criança infectada pelo HIV. A descoberta pode ajudar a abrir o caminho para eliminar a infecção pelo HIV em crianças.
O paciente de 2 anos foi tratado com drogas antivirais nos primeiros dias de vida e não tem mais níveis detectáveis do vírus nem sinais da doença. A criança não recebe mais tratamento contra aids há 10 meses.
Segundo os pesquisadores, o paciente recebeu uma terapia antirretroviral nas primeiras 30 horas de vida. Os pesquisadores afirmam que a pronta administração dos medicamentos pode ter levado à cura do bebê por ter impedido a formação de “reservas” do vírus – células dormentes responsáveis por reiniciar uma infecção de HIV semanas após a interrupção da terapia tradicional com o coquetel.
“A pronta terapia antirretroviral em recém-nascidos que começa nos primeiros dias de exposição (ao vírus) pode ajudar crianças a limpar o vírus e alcançar uma remissão de longo prazo, sem (a necessidade de) um tratamento por toda vida, ao prevenir a formação de tais esconderijos virais”, diz Deborah Persaud, do Johns Hopkins, que participou do estudo.
A criança que passou pelo tratamento recebeu o HIV da mãe. O tratamento nas primeiras horas de vida resultou em um decréscimo gradativo da presença do vírus no organismo do paciente. Com 29 dias, o bebê não tinha mais níveis detectáveis do micro-organismo no sangue. Com 18 meses, o tratamento foi interrompido e, 10 meses após a interrupção, novos testes não conseguiram detectar a presença do HIV.
Atualmente, recém-nascidos de alto risco (cujas mães têm infecções pouco controladas ou cuja infecção foi descoberta próxima ao parto) recebem uma combinação de antivirais e em doses profiláticas para prevenir a infecção durante seis semanas e, se o vírus for detectado, começam o tratamento tradicional com o coquetel de drogas. O novo estudo pode mudar essa prática, já que mostra a cura potencial do tratamento nas primeiras horas de vida.
Caso não é caminho para Cura do HIV em adultos
O caso de um bebê americano que, após ter a infecção por HIV detectada, foi tratado com uma combinação de medicamentos e teve o vírus reduzido a níveis indetectáveis por exames comuns, o que foi considerado uma “cura funcional”, não cria, em princípio, nova perspectiva de eliminação do vírus em adultos, segundo explica o médico Adilson Westheimer, infectologista do Hospital Heliópolis e da Faculdade de Medicina do ABC, ambos na Grande São Paulo.
“Esse não é o caminho para a cura em adultos. O que foi apresentado pode trazer um direcionamento para cura em recém-nascidos”, explica Westheimer, que considera o anúncio deste domingo (3), nos EUA, “uma excelente notícia”. Como se trata de apenas um caso, ainda há muito a ser estudado para entender se essa abordagem pode ser repetida com os mesmos efeitos em outros indivíduos.
“O importante é o paciente sob tratamento continuar se tratando. Foi uma descoberta importante porque a criança recém-nascida foi tratada com três remédios, quando normalmente se usa apenas um. O tratamento precoce e o uso de mais remédios pode ter ajudado”, afirma o infectologista do Instituto Emílio Ribas, Caio Rosenthal. “Foi uma ótima notícia. Sempre que se fala em cura cientificamente evidenciada, é sempre muito bom para a medicina”, acrescentou.
O que é Cura Funcional
A cura funcional ocorre quando a presença do vírus é tão mínima que ele se mantém indetectável pelos testes clínicos padrões e discernível apenas por métodos ultrassensíveis. Ela é diferente da cura “por esterilização” (que pressupõe uma erradicação completa de todos os traços virais do corpo), mas significa que o paciente pode se manter saudável sem precisar tomar remédios por toda a vida.
O que se faz é controlar a reprodução do HIV durante longos períodos de tempo, evitando os tratamentos antirretrovirais que têm o incoveniente de precisar ser mantidos indefinidamente.
A questão sobre se o paciente tem ou não uma “cura total”, em que todos os vestígios do vírus estão ausentes do organismo, mantém-se em aberto.
Matéria com informações da Assesoria de Imprensa do The Johns Hopkins University.
Fonte: pfarma.com.br