A corrida apressada das empresas para criar novas drogas se deve a uma característica do setor farmacêutico. Nele, não existem vacas leiteiras.
O nome é estranho, mas se trata de uma classificação clássica da administração de empresas. Vaca leiteira, segundo a matriz BCG, criada nos anos 1970 por consultores, é a companhia com produtos e negócios já maduros, estáveis, que não necessita mais de grandes investimentos. Ela rende dividendos aos acionistas quase que por inércia. É o caso de fabricantes de cigarros, por exemplo.
Quem produz remédios, porém, se depara com o fantasma constante das expirações das patentes –em geral, 20 anos após o pedido inicial. Nesse setor, o custo da tecnologia é muito mais alto do que o de produção. Quando um remédio, por força de lei, perde a patente, seu preço despenca para evitar o desastre no balanço financeiro, a farmacêutica tem então de criar novos produtos. É preciso patentear mais e mais.
O caso da AstraZeneca é exemplar. Em 2012, a empresa estava, nas palavras do jornal “Financial Times”, “rumando para o abismo”, com o vencimento próximo das patentes de duas das suas drogas mais importantes: Nexium (esomeprazol), para úlceras, gastrites e dores de estômago, e Crestor (rosuvastatina), para o colesterol.
Foi nessa condição que um executivo francês assumiu a presidência do grupo. Pascal Soriot deu uma guinada brusca: o carro-chefe deixaria de ser tais medicamentos de massa, e a oncologia ganharia especial destaque. Nesta edição da Asco, a AstraZeneca apresentou duas drogas que pretende colocar no mercado em breve, uma contra vários tipos de tumores e outra para câncer de pulmão.
“As empresas estão sempre famintas por novos produtos”, diz Luciano Rossetti, vice-presidente de pesquisa da Merck. “Um desafio é ao mesmo tempo ter musculatura para manter vários testes clínicos e também seletividade –você não pode sair atirando para todos os lados.”
A imuno-oncologia tem sido uma sensação nos departamentos de pesquisa das empresas, mas especialistas apontam que suas façanhas ainda são limitadas. “Que essas drogas funcionam é fato. Mas precisamos saber melhor para quais pacientes e para quais tumores”, afirma o oncologista Fernando Maluf.
“A imunoterapia ainda está longe do sucesso generalizado. Não acho que será a solução para todos os pacientes”, diz John Lin, vice-presidente de pesquisa da Pfizer.
Fonte: Pfarma