Farmacêuticas cobram do Brasil investimento na formação de cientistas

As multinacionais do setor farmacêutico já investiram nas economias emergentes mais de US$ 100 bilhões em menos de dez anos, num esforço para chegar aos mercados que mais crescem hoje e aproveitar justamente as políticas de incentivo à ciência nesses países.

Mas as empresas alertam que, se o Brasil quiser ampliar mais sua participação na inovação, deve deixar de focar apenas no desenvolvimento de laboratórios estatais, como vem fazendo até agora, e colocar em prática incentivos que possam também dar espaço para o setor privado.

Outra medida urgente que o Brasil deveria tomar, cobram as empresas, é ampliar a formação de cientistas.

Um levantamento feito a pedido da Federação Internacional de Empresas Farmacêuticas (IFPMA), entidade que reúne as maiores empresas do setor, revelou que países como o Brasil, a China e a Índia passaram a ser considerados como estratégicos pelas multinacionais. De alvo de uma verdadeira batalha por conta da política de patentes, essas nações extensas e populosas se transformaram em cobiçado salvos no que se refere às políticas de incentivo à inovação.

Entre 2003 e 2010, o volume de investimento de empresas de remédios nos oito principais mercados emergentes superou a marca de US$ 116 bilhões, um recorde. A China abocanhou quase metade desses investimentos, com US$ 49,5 bilhões, seguida pela Índia. O Brasil aparece como o terceiro maior destino de investimentos, com US$ 13,3 bilhões, superando a Rússia e a Coreia do Sul.

O estudo não deixa dúvidas de que parte do investimento ocorre justamente para permitir que as empresas estejam mais próximas do mercado consumidor, em ampla expansão nesses países. O Brasil, por exemplo, aparece como o segundo maior mercado emergente do mundo, superando até mesmo a Índia, com mais de 1 bilhão de habitantes, ficando atrás apenas da China.

Descentralização

Mas, segundo o levantamento, há também um movimento para descentralizar a produção de inovação no setor farmacêutico. Grande parte dos centros de pesquisa continua nos países ricos. Só os Estados Unidos contam com 70 deles, contra 61 na Europa. Mas, nos últimos anos, empresas também têm se lançado na abertura de centros de inovação em outros mercados.

Nos países emergentes já são 21 centros, ainda que 12 deles estejam na China. O Brasil conta com apenas 1 desses centros. Outra constatação é o aumento nos gastos com investimentos no setor de pesquisas. Entre 2005 e 2010, o fluxo sofreu um aumento de 10% para a Ásia e de 15% na América Latina. Já na Europa o investimento com pesquisa sofreu uma queda de 32%.

“Nos últimos anos, cresceu o número de países onde a inovação biofarmacêutica vem ocorrendo e essa tendência deve ser mantida”, afirmou Eduardo Pisani, diretor-geral da IFPMA. “Países de renda média estão se tornando cada vez mais importantes nas atividades de inovação, dos estágios mais preliminares da pesquisa até o desenvolvimento clínico”, declarou.

Segundo os autores do levantamento, a situação no Brasil é uma indicação do interesse das multinacionais. Os investimentos privados em pesquisa farmacêutica passaram de US$ 44 milhões em 2005 para mais de US$ 255 milhões em 2008. “Na China, na Coreia do Sul e no Brasil, os gastos com pesquisas para remédios aumentaram de forma dramática na última década”, aponta o estudo.

Parte desse dinheiro significou um maior número de empregos. Em 2003, empresas farmacêuticas privadas mantinham 913 cientistas em seus departamentos de pesquisa no Brasil.

Cinco anos depois, esse número era de 1,7 mil. O número de testes clínicos realizados por empresas que tentam trazer ao mercado novos produtos explodiu.

Em 2007, 198 testes ocorreram no Brasil; em 2010, esse número subiu para 346. Junto com a China, o Brasil encabeça a lista dos países emergentes com maior número de pesquisas clínicas.

O levantamento também mostra como o número de artigos científicos por médicos e pesquisadores brasileiros sofreu uma elevação importante. No total, 12,1 mil artigos foram publicados entre 2007 e 2009, 3 mil a mais que entre 2004 e 2006.

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