Na guerra contra o “danado” do mosquito Aedes aegypti, que “é tímido, mas gosta das extremidades”, as mulheres se protegem menos que os homens, porque “ficam com as pernas de fora”. “E quando usam calça, usam sandália”.
As expressões acima fazem parte do repertório de observações e conselhos do atual ministro da Saúde, o médico psiquiatra e deputado federal licenciado Marcelo Castro, desgastado no governo por causa de suas declarações.
Nesta última segunda-feira (25), ele gerou insatisfação novamente no Planalto ao afirmar que o Brasil estava perdendo “feio” no combate ao mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya.
“Nós estamos há três décadas com o mosquito aqui no Brasil e estamos perdendo feio a batalha para o mosquito”, afirmou, ao lembrar que o país registrou recorde de casos de dengue em 2015, com mais de 1,6 milhão de casos.Não foi a primeira vez que o ministro fez críticas à falta de ações contra o Aedes. Em dezembro, ele afirmou ver uma certa “contemporização” do governo e sociedade no combate ao mosquito. “Ficamos sempre na loteria.”
DESLIZES
Psiquiatra, Castro passou a se dedicar à política em 1982. Atuava como deputado federal pelo PMDB quando assumiu o ministério, em outubro, em um gesto da presidente Dilma Rousseff para ampliar o espaço do partido no governo.
Desde então, Castro colecionou falas polêmicas. Em uma delas, disse que iria “torcer para que as mulheres peguem zika” antes da idade fértil, “aí ficariam imunizadas pelo próprio mosquito” e não precisariam de vacina.
Em outra ocasião, ao comentar a articulação e apoio do Exército no combate ao Aedes, Castro sugeriu como piada, em reunião interna, usar também a Marinha, “porque o mosquito se reproduz na água”, e a Aeronáutica, “porque ele voa”.
Não à toa, o ministro tem sido figura ausente na maioria das coletivas de imprensa da Saúde. A maioria dos anúncios fica a cargo de diretores e secretários -o ministro optou por falar em viagens ou após encontros oficiais.
Nessas ocasiões, o discurso se repete. Tentando estimular o uso de roupas compridas, uma das estratégias recomendadas contra o Aedes, diz notar que “os homens se protegem mais que as mulheres” no vestuário.
Já mulheres com intenção de engravidar precisam saber que, diante da microcefalia, “sexo é para amador, gravidez é para profissional”, diz.
‘MAL INTERPRETADO’
Indagado pela Folha na semana passada, Castro negou ter sofrido pressão por suas falas. E disse que se expressou mal ao citar uma “torcida” para que pegassem zika.
“Se a pessoa está fadada a adquirir zika, melhor seria antes da gravidez para que fique imune.” A frase, segundo ele, tem fundamento técnico: enquanto o vírus da dengue tem quatro sorotipos, o da zika tem só um. A repercussão, diz, foi “absurda”. “Toda pessoa tem direito de um dia se expressar mal”.
Castro afirmou que repetiria o conselho de que “gravidez é para profissional”.
Já sobre a fala sobre a roupa das mulheres, apontada como machista em redes sociais, disse: “Me dá uma recomendação melhor que essa?”
“Tenho o direito de recomendar isso para proteger as pessoas”, afirmou. “Imagina o drama da microcefalia. Agora botar que é sexismo, é machismo? Pelo amor de Deus”. A Folha tentou questioná-lo sobre as outras frases, mas o ministro encerrou a ligação.
Fonte: Interfarma