Mais da metade de crianças e adolescentes no Brasil estão com o calendário vacinal atrasado, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde: 53% não têm a caderneta em dia, índice que foi analisado por especialistas como um sinal de alerta. O ano de 2016 teve a menor cobertura vacinal da última década, o que contraria o histórico do país de boa resposta às campanhas.
— Ao desagregar os dados, vemos bolsões, locais com baixas coberturas. Se ao longo dos anos isso persistir, corremos o risco de ver de volta doenças que já não existem mais no Brasil — afirmou Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.
Só este ano, na Europa, foram registrados casos de sarampo em países como Portugal, França e Alemanha. Até 22 de agosto, a Itália relatou 4.220 casos de sarampo, incluindo três mortes. Na Venezuela, houve 324 casos de difteria e oito de sarampo este ano, além de sete mortes registradas por difteria ano passado. Há vacinas para todas essas doenças.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, reafirma que as coberturas vacinais no país são altas se comparadas com o resto do mundo — em número de vacinas oferecidas, e também no alcance. Kfouri atribui a queda da cobertura vacinal a uma “soma de fatores”, tendo como principal o fato de as pessoas não conviverem mais com doenças como sarampo e rubéola, muito menos com mortes decorrentes dessas enfermidades.
— A demanda está influenciada pela sensação de risco, mas é uma pena que tratem a vacinação com a mentalidade de apagar incêndios e não como forma de prevenção. Meningites matam, diarreias hospitalizam — alerta o especialista.
CAMPANHA QUER ATINGIR 47 MILHÕES
Kfouri aponta ainda outras questões, como o desabastecimento de vacinas, o horário de funcionamento dos postos (durante a jornada de trabalho dos pais) e a propagação de mitos na internet. Mas ele não acredita que os movimentos antivacina tenham impacto por aqui:
— O que existe mais aqui são os “hesitantes”: pais que vão vacinar, leem uma informação equivocada na internet e ficam inseguros. Alguns mitos disseminados nas redes sociais contribuem para a queda da cobertura vacinal.
Este ano, a Campanha de Multivacinação do Ministério da Saúde espera atingir mais de 47 milhões de crianças e adolescentes de até 15 anos, numa mobilização que vai até o dia 22 deste mês, com 13 vacinas para crianças e oito para adolescentes disponíveis nos postos de vacinação. Além das 143,9 milhões de doses de vacina de rotina, outras 14,8 milhões de doses extras de 15 vacinas estarão disponíveis em 36 mil postos fixos de vacinação.
— Pretendemos avançar ainda mais na conscientização dos pais para a importância da vacinação de crianças e adolescentes. A campanha que lançamos hoje reforça que todos os dias são dias de vacina. Só com essa conscientização é que a população brasileira estará protegida de uma série de doenças que são facilmente preveníveis apenas com vacinação — enfatizou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
Fonte: O Globo