A crescente concorrência no mercado farmacêutico brasileiro, o sexto maior do mundo, levou os laboratórios a ampliar em mais de dois pontos percentuais o desconto médio dos medicamentos vendidos em farmácias ao longo de 2015, segundo levantamento da americana IMS Health. A tendência, porém, é a de que em 2016 a indústria reduza esses descontos para recuperar parte da rentabilidade corroída pela elevação nos custos de produção.
Segundo a IMS, que é vista como uma espécie de auditoria da indústria farmacêutica mundial, o desconto médio concedido pelos laboratórios no varejo nacional em outubro, último mês do levantamento, foi de 39,23%, o maior nível mensal de 2015. Em relação a janeiro, quando era de 36,96%, houve aumento de aproximadamente 2,3 pontos percentuais.
O levantamento mostra ainda que cerca de R$ 6,54 bilhões em medicamentos foram vendidos às farmácias brasileiras em outubro, considerando¬se os preços de referência. Com o desconto, porém, o varejo, que representa 75% do mercado nacional, pagou de fato R$ 3,98 bilhões.
Uma das justificativas para a estratégia mais agressiva de preços, de acordo com o presidente das Intefarma (que reúne as multinacionais), Antônio Britto, é a tentativa dos laboratórios de manter participação de mercado em um momento de crise econômica ¬ que já se refletiu na redução do ritmo de crescimento das vendas de medicamentos no país. Após alguns anos de crescimento da ordem de 15%, em 2015 as vendas da indústria devem mostrar alta de 10%.
Segundo Britto, 92% dos fármacos vendidos no Brasil fazem parte dos chamados mercados competitivos, em que há mais de um fornecedor. Para mais de 50% das drogas, existem pelo menos cinco diferentes fornecedores, o que amplia a disputa por pacientes via descontos. “A indústria vive uma contradição: a pressão de custos agravada pelo câmbio empurra para a redução do desconto, ao mesmo tempo em que a concorrência puxa para a concessão de mais desconto”, afirmou.
O cenário indicado pela IMS, porém, não é reconhecido de maneira unânime pelos laboratórios, que evitam tornar pública sua política comercial sob o argumento de que o mercado é altamente competitivo. No segmento de genéricos, por exemplo, os fabricantes afirmam que o desconto, que ficou em torno de 60% no ano passado, já caiu para 40% na esteira do forte aumento de custos.
Novos cortes são esperados por esses laboratórios, uma vez que as margens seguem espremidas e o crescimento das vendas, abaixo do esperado. A maior pressão vem dos gastos com insumos farmacêuticos. Embora o país tenha estabelecido um importante polo de produção de genéricos, não houve investimento na fabricação local de insumos e entre 85% e 90% da matéria-prima usada no país é importada. Com a desvalorização do real, esse custos subiram pelo menos 40% em 2015.
Em meados de outubro, o presidente-¬executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, disse que a revisão da política de descontos já estava na pauta do setor e que o consumidor começaria a sentir no bolso o efeito dessas medidas em questão de meses.
A Hypermarcas, segunda maior farmacêutica do país em vendas, indicou que vai rever sua política comercial em alguns segmentos de atuação. “Existe a possibilidade de mudar um pouco o fluxo de dinheiro a nosso favor. Não dá para continuar em alguns mercados a dar os descontos que costumamos dar”, afirmou o presidente da divisão farmacêutica, Luiz Eduardo Violland.
Já o presidente do Aché, Paulo Nigro, disse em encontro com jornalistas no início de novembro que a percepção é a de que a indústria nacional terá de se acomodar a um nível de rentabilidade menor por causa do câmbio. O laboratório, afirmou o executivo, “já praticava descontos baixos por não acreditar em uma política comercial baseada em desconto”. “Aceitamos a diminuição temporária de margens. Estamos colocando grande foco em excelência operacional”, explicou.
Fonte: Interfarma