Eis que, em pleno século XXI, o homem deixa de lado as artificialidades químicas e se volta à própria natureza a fim de encontrar soluções para as “dores de cabeça” da Medicina. Biologia e tecnologia aliadas na produção dos chamados medicamentos biotecnológicos hoje são a maior aposta do meio científico e já de pacientes para o tratamento e a cura de doenças crônicas como o câncer, as doenças autoimunes e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a Aids.
Diferente da maioria dos remédios consumidos atualmente – que são sintéticos, uma vez que a substância ativa deles não existe na natureza – os medicamentos biotecnológicos são produzidos a partir da biossíntese. Em culturas minimamente controladas, células modificadas geneticamente dão origem a proteínas, hormônios ou a outros fluidos que constituem o “princípio ativo” do medicamento biotecnológico. Falando assim nem parece, mas o processo é complicado.
Toda uma engenharia genética é necessária para combinar partes de moléculas de DNA, produzir um “DNA recombinante” que é inserido no núcleo genético dessa célula viva, que pode ser uma bactéria ou um vírus, por exemplo. As substâncias produzidas nesse processo são similares às produzidas pelo organismo do homem e se prestam a atingir um alvo muito específico. Daí a excitação da comunidade científica.
“Enquanto os medicamentos usados na quimioterapia de pacientes com câncer, por exemplo, varrem células boas e ruins, causando fortes efeitos colaterais, os medicamentos biotecnológicos agem na célula doente e preservam as demais. Têm se mostrado muito mais eficientes”, explica a médica reumatologista Mirhelen de Abreu, que também é cientista do Centro Latino Americano de Pesquisa em Biológicos (Clapbio).
“Os biológicos representam atualmente a maior fonte de inovação da indústria farmacêutica e soluções para inúmeras doenças, até então não tratadas eficazmente com as terapias tradicionais. Assim, a química orgânica dá lugar à biologia molecular e aos processos biotecnológicos”, complementa Antônio Britto, presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
Saúde pública
Os medicamentos biotecnológicos são a geração mais avançada de medicamentos biológicos, também denominados biofármacos. Alguns deles já são bastante conhecidos da população. “Os biológicos começaram a ser pesquisados ainda nos anos 1980. O primeiro a ser produzido foi a insulina humana”, comenta o farmacologista e conselheiro do Conselho Federal de Farmácia de São Paulo, Marcelo Polacouw. Vacinas e hormônios do crescimento e fatores de coagulação também são medicamentos biológicos já bastante difundidos no mercado.
“Mas são os modernos anticorpos monoclonais que vêm revolucionando o tratamento do câncer e de doenças autoimunes”, explica o presidente da Interfarma. Os anticorpos monoclonais são uma das dezenas de classes dos biológicos, mas estão dentro da geração moderna desse tipo de medicamento, ou seja, os biotecnológicos. Exemplo é o trastuzumabe, que é utilizado no tratamento do câncer e inclusive é já oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Outros cinco biotecnológicos para o tratamento de artrite-reumatóide – tipo de doença autoimune que se caracteriza pela inflamação das articulações – também foram recentemente incorporados à lista de medicamentos ofertados pelo SUS, que já incluía três biológicos, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
O SUS tem sido o caminho primeiro de acesso da população brasileira ao medicamento biotecnológico. É que tanta tecnologia assim tem valor bilionário. No Ciência & Saúde desta semana, saiba porque os medicamentos biotecnológicos são tão eficientes, mas também tão caros. Conheça ainda os biossimilares, a chance de tirar a produção dos biotecnológicos do monopólio das grandes indústrias farmacêuticas, ampliando o acesso.
Fonte: Interfarma.org.br