O Brasil avançou quatro posições no ranking mundial das exportações de produtos farmacêuticos entre 2004 e 2014, ao passar do 65º para o 61º lugar em termos de participação dos medicamentos na pauta de vendas externas de um país. Com índice de 0,66%, porém, o Brasil ainda está bem atrás da média mundial para esse mercado, de 2,8%, segundo levantamento da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
De acordo com o presidente executivo da entidade, Antônio Britto, a falta de fôlego das exportações da indústria farmacêutica se reflete em déficit comercial crescente – hoje o Brasil responde pelo quinto maior déficit, com mais de US$ 6 bilhões. Olhando para a balança comercial local, a indústria farmacêutica responde pelo oitavo maior déficit, que representa 4,4% do saldo negativo do país.
“Há muitos obstáculos à competitividade do medicamento brasileiro no mercado mundial”, diz o executivo. “O ponto central é que o déficit comercial é crescente, mas a razão não está no desequilíbrio das importações, que cresce menos do que em outros países”, acrescenta.
Nos últimos dez anos, conta Britto, o volume de produtos farmacêuticos comercializados mundialmente (considerando-se exportações e importações) cresceu perto de 110%, enquanto a corrente de comércio farmacêutica do Brasil avançou 287%, alcançando US$ 1,6 bilhão em exportações e US$ 8,2 bilhões em importações. “O problema é que, embora as exportações brasileiras [de medicamentos] tenham crescido, o ritmo foi bem menor que a média mundial e hoje elas representam 0,31% do total exportado no mundo”, aponta o presidente da Interfarma.
No ranking geral de exportação de medicamentos, o Brasil ficou em 27º lugar. Ao mesmo tempo, no de importações, o país ocupa a 16ª posição, com 1,54% da importação global. Para dar musculatura às vendas externas, afirma Britto, o Brasil deveria adotar medidas de estímulo à produção de insumos, que hoje são importados maciçamente. Em 2011, as exportações brasileiras de insumos estavam na casa de US$ 800 milhões. Em 2014, caíram a US$ 560 milhões – no mesmo ano, as importações desse tipo de produto totalizaram US$ 2,7 bilhões, frente a US$ 1 bilhão em 2005.
Outro item que poderia constar da pauta de exportações, os medicamentos básicos não teriam condições de concorrer com importantes fornecedores globais, como a Índia. “Esse mercado se tornou de commodity, já que não há mais a proteção de patente, e o genérico brasileiro não tem preço para enfrentar o produto indiano, por exemplo”, cita o executivo, acrescentando que, diante do tamanho do mercado farmacêutico doméstico, políticas de incentivo às vendas externas de remédios produzidos localmente não foram tratadas como prioridade.
A conclusão, conforme Britto, é que o Brasil teria de fomentar as exportações – restringir as importações seria reduzir o acesso a medicamentos -, com maior oferta e preço mais baixo do que a concorrência internacional. E uma potencial solução passaria pela retomada da produção local de insumos.
Fonte: Valor Econômico